Dar mais Saúde à população feminina

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Dar mais Saúde à população feminina

A conferência “A Saúde das Mulheres em Portugal” foi organizada com o intuito de apresentar as recomendações propostas pelo grupo de trabalho liderado pela Dr.ª Maria de Belém Roseira, e constituído por profissionais de referência em diversas áreas essenciais à saúde da mulher, rumo à implementação de um Plano Nacional da Saúde da Mulher. Esta iniciativa contou com o apoio da Hologic e foi transmitida em direto na página de Facebook do jornal Expresso, a partir do Palacete Tivoli, em Lisboa.

Num verdadeiro movimento cívico, o grupo de trabalho “A Saúde das Mulheres em Portugal” iniciou as suas sessões de trabalho em abril deste ano com o objetivo de fomentar o debate e contribuir para a melhoria da saúde e do bem-estar da população feminina em Portugal. Isto porque, como é sabido, as mulheres estão mais sujeitas a determinantes socioeconómicos e biológicos, que originam sofrimento, doença física e mental, bem como desigualdades profundas.

Liderado pela Dr.ª Maria de Belém Roseira, o grupo junta ainda os dirigentes da Sociedade Portuguesa de Senologia, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, da Sociedade Portuguesa de Contracepção, da Sociedade Portuguesa de Oncologia, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, da Liga Portuguesa Contra o Cancro e da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Das reuniões de trabalho resultaram propostas, que visam debater o estado da saúde das mulheres em Portugal, através da análise do panorama nacional na atualidade. Essas propostas e recomendações encontram-se agora reunidas num único documento para análise de decisores governamentais com o objetivo principal de incentivar a criação de uma Estratégia Nacional para a Saúde da Mulher, para funcionar em articulação com o Plano Nacional de Saúde e ser inserida nos programas prioritários da Direção-Geral da Saúde e Plano para a Igualdade.

A apresentação oficial destas propostas e recomendações decorreu na Conferência “A Saúde das Mulheres em Portugal” cuja moderação esteve a cargo do jornalista Rodrigo Pratas. As boas-vindas foram dadas por Emilia De Alonso, country lead ibérica da Hologic, felicitando a iniciativa e evidenciando o “empenho com que os profissionais se entregaram à causa”. Nas suas palavras, “contribuíram para o sucesso dos resultados alcançados”, até porque, “o mundo precisa de mulheres saudáveis”, pois são “a espinha dorsal das nossas famílias, comunidades e sociedades”. Realçou ainda que “contribuir para melhorar a vida das mulheres é um foco do trabalho diário da Hologic”.

Nesta matéria, a country lead salientou que há muito ainda que pode ser feito e referiu alguns dados de estudos desenvolvidos pela empresa. “No último ano, um milhão e meio de mulheres em todo o mundo tem falta de exames essenciais de diagnóstico”, destacou e mencionou que está a ser dado “um importante passo em direção à melhoria das condições de vida das mulheres portuguesas com a apresentação desta proposta do plano nacional para a saúde das mulheres”.

Objetivo: conseguir mais saúde para as mulheres

De seguida, a presidente do grupo de trabalho “Saúde das Mulheres em Portugal”, Dr.ª Maria de Belém Roseira, conversou com o moderador sobre alguns dos temas centrais. Quando questionada sobre as barreiras encontradas, respondeu prontamente que “as mesmas se vão derrubando”, além disso, “as mulheres estão habituadas a tarefas complexas e difíceis e normalmente estão acompanhadas por homens de boa vontade que ajudam a derrubar as barreiras”.

A antiga ministra da Saúde referiu que com esta iniciativa o pretendido é conseguir “mais saúde para as mulheres”, logo, “mais saúde para a sociedade, porque as mulheres são maioritariamente as cuidadoras e as educadoras”. A presidente do grupo de trabalho destacou ainda que, “para se ter mais saúde, temos de começar pela análise da situação”. Neste sentido, endereçou um enorme agradecimento às pessoas que “doaram o seu tempo e conhecimento para que se conseguisse ter um programa de saúde para a mulher, que será para encaixar numa estratégia de mais saúde para as mulheres se os poderes públicos e políticos assim o entenderem”.

Aquilo que é proposto está “de acordo com o conhecimento científico existente e com a realidade social”, mencionou a Dr.ª Maria de Belém Roseira, acrescentando que se trata de um “contributo descomprometido”. Ou seja, “não temos responsabilidades, mas temos noção e consciência e vontade”. É também objetivo do grupo de trabalho que o documento contribua para a literacia das mulheres, segundo a presidente.

Perspetiva dos elementos do grupo de trabalho

O evento avançou com as intervenções de cada elemento do grupo de trabalho, cujas identificações e cargos podem ser lidos no final do artigo. Todos deram a sua perspetiva acerca da elaboração deste programa, em cada uma das áreas, e que tipo de soluções encontraram para as diversas adversidades e como foram ultrapassadas.

“A área da saúde sexual e reprodutiva, apesar de ter imensos problemas, é uma área contida, que tem problemas transversais com outras áreas”, referiu a Dr.ª Fátima Palma, presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção, ressalvando que “é mais fácil delinear os problemas que existem e propor algumas das soluções”. A ginecologista referiu ter sido “fácil trabalhar” com os restantes elementos do grupo e que juntos foram “falando e encontrando soluções”.

Na qualidade de especialista em Medicina Geral e Familiar, e representando a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Dr.ª Vera Pires da Silva realçou a abrangência da sua especialidade. Todos os tópicos dizem respeito aos médicos de família porque acompanhamos a mulher desde que nasce até à velhice”, frisou, evidenciando todos os níveis de cuidados focalizados pelo documento, bem como a necessidade de articulação entre os Cuidados de Saúde Primários e Cuidados de Saúde Secundários muito evidente nas reuniões.

A Prof.ª Doutora Helena Canhão, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, refere que em vez do enfoque ter sido nas doenças foi na saúde e relativamente à sua área, da saúde músculoesquelética e das doenças reumáticas, a docente referiu que foi tido em consideração a frequência dessas patologias nas mulheres, a incapacidade e a dor. Porém, “sempre numa perspetiva positiva de como conseguimos prevenir a doença e melhorar a qualidade de vida”. Lembrou também que são doenças que impactam “nas pessoas que são cuidadoras de outras”.

Em relação à saúde cardiovascular, a Prof.ª Doutora Ana Teresa Timóteo, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, assegurou que é um tema que “anda a ser debatido há algum tempo” por várias sociedades científicas. Assim, referiu que havia conteúdo, tendo sido acrescentada a questão da “clara interação” das doenças cardiovasculares com “uma grande variedade de patologias, como por exemplo reumáticas, ginecológicas ou obstétricas. A cardiologista enfatizou que muitos exames cardiológicos podem ser prescritos por médicos de outras especialidades e, nesse sentido, considerou fundamental a partilha de conhecimentos com os demais especialistas.

Para a Prof.ª Doutora Maria João Heitor, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, esta experiência foi um “desafio enriquecedor”. Referiu que “durante a pandemia, a Saúde Mental em termos de perturbações psiquiátricas mais do que duplicou as suas prevalências na depressão, ansiedade, stress pós-traumático, entre outras”, pelo que, no seu entender, “fez todo o sentido integrar este grupo, tanto mais, pensando nos grupos vulneráveis, como as mulheres, os jovens e as pessoas mais velhas”.

A Dr.ª Gabriela Sousa, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia, referiu que “o cancro da mama é o tumor mais frequente nas mulheres e, por ano, são diagnosticados cerca de sete mil novos casos e ocorrem 1800 mortes em Portugal”, salientando a necessidade da prevenção. “Cerca de 25 % dos cancros são evitáveis”, referiu e acusou que “em Portugal há mais investimento no tratamento que na prevenção”. Sugeriu, assim, que as pessoas “devem prevenir mais, com exercício físico, controlo do peso e hábitos de vida saudáveis”, mas também “amamentar, porque a amamentação é um fator preventivo do cancro da mama”.

A Dr.ª Paula Chaves, que representou a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), disse que à medida que o trabalho avançava, “constatámos que os objetivos deste grupo iam ao encontro dos objetivos da LPCC, entre eles a aposta na prevenção das doenças oncológicas, no rastreio”. Destacou, aliás, que “a forma correta de olhar para o cancro é prevenir e diagnosticar precocemente. Estas são as nossas armas”. Acrescentou que, “para lidar com a doença oncológica, é preciso estar informado”.

Também o Prof. Doutor Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia teve um representante neste evento, o Prof. Doutor José Luís Passos Coelho, que indicou que “a Sociedade Portuguesa de Oncologia tem sempre interesse em promover a Saúde, bem como reduzir e tentar prevenir a doença oncológica”. O oncologista apontou o cancro da mama e o carcinoma do colo do útero como sendo “duas das doenças oncológicas específicas da população feminina, em que está claramente demonstrado que o rastreio reduz a mortalidade por cancro”.

As sete áreas fundamentais para a saúde feminina: eixos transversais e específicos

No documento, numa primeira fase, são enumeradas as áreas transversais com impacto na saúde das mulheres, fazendo uma abordagem intersetorial, com propostas e recomendações, numa visão de Saúde em Todas as Políticas (SeTP). Assim, são apontados como Eixos Transversais passíveis de atuação as determinantes sociais, económicos e laborais; literacia em saúde; acesso e integração e continuidade de cuidados; importância da qualidade da informação; transformação digital ao serviço da saúde da mulher; formação pré e pós-graduada; e investigação e ensaios clínicos.

Numa segunda fase, o documento focaliza-se no contexto da situação da saúde da mulher em várias áreas específicas, estabelecendo igualmente, após a análise de cada uma delas, recomendações de atuação. Os Eixos Específicos identificados foram a saúde sexual e reprodutiva; Saúde Mental; doenças cardiovasculares; doenças oncológicas; doenças reumáticas e musculoesqueléticas; violência de género; comunidade LGBTQIA+.

 

 

Elementos do grupo de trabalho:

Presidente: Dr.ª Maria de Belém Roseira, presidente do Grupo de Trabalho “Saúde das Mulheres em Portugal”, ministra da Saúde de 1995 a 1999, ministra para a Igualdade e Deputada de 1999 a 2000.

Autores (ordem alfabética):

Prof.ª Doutora Ana Teresa Timóteo, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, coordenadora da task-force da Saúde Cardiovascular das Mulheres da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, cardiologista no Hospital de Santa Marta;

Dr.ª Fátima Palma, presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção, ginecologista e obstetra na Maternidade Alfredo da Costa;

Eng.º Francisco Cavaleiro de Ferreira, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC);

Prof.ª Doutora Helena Canhão, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, diretora da Unidade de Reumatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central – Hospital de Santo António dos Capuchos, diretora da NOVA Medical School;

Dr. José Carlos Marques, presidente Sociedade Portuguesa de Senologia, radiologista no Instituto Português de Oncologia de Lisboa;

Prof.ª Doutora Maria João Heitor, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental e Serviço de Psiquiatria, presidente da Comissão de Ética do Hospital Beatriz Ângelo, Loures;

Prof. Doutor Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, oncologista no Instituto Português de Oncologia do Porto;

Dr.ª Vera Pires da Silva, coordenadora do Grupo de Estudos da Saúde da Mulher da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, especialista em Medicina Geral e Familiar na Unidade de Saúde Familiar Génesis, ACeS Loures-Odivelas.


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