Prof. Doutor Paulo Filipe eleito presidente da SPDV: os novos desafios que “esta profissão me impõe todos os dias”
Quinta-feira, 16 Março 23 11:35
Paulo Filipe
Dermatologia
Prof. Doutor Paulo Filipe eleito presidente da SPDV: os novos desafios que “esta profissão me impõe todos os dias”
Quinta-feira, 16 Março 23 11:35
“É um compromisso com a profissão e uma forma de retribuição dos ensinamentos e experiência que me foram transmitidos pelos ilustres colegas que me ajudaram a ser o que sou como pessoa.” Palavras do Prof. Doutor Paulo Filipe, presidente eleito da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), para o biénio 2023-2024. Em entrevista, o especialista destaca os principais desafios para esta nova etapa como a investigação clínica, regulamentação da estética como componente do internato de Dermatologia e da especialidade em geral.
Médico News (MN) | O Prof. Doutor Paulo Filipe é diretor do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de Lisboa Norte e presidente do Colégio da Especialidade de Dermatovenereologia da Ordem dos Médicos. Além da sua função clínica e médica, ainda partilha o seu tempo na SPDV. O que o motivou a assumir esta responsabilidade?
Prof. Doutor Paulo Filipe (PF) | Motivou-me a convicção de não poder virar costas aos desafios que esta profissão me impõe todos os dias. A escolha de quem assume a presidência de uma sociedade médica, altamente respeitada e influente como a SPDV, determinada por processos eleitorais ou seleção interna na organização. Contudo, posso elencar a alguns aspetos que motivaram este desafio: paixão pela área de Dermatologia e querer contribuir para o avanço da especialidade; oportunidade para construir uma rede de contactos na área a nível nacional e internacional; oportunidade para fazer a diferença, impactando positivamente a área, promovendo a educação, investigação, normas éticas, entre outras questões importantes; contribuir para a educação e prevenção de doenças dermatológicas, bem como promover a consciencialização sobre problemas cutâneos e ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de doenças da pele. Por último, é um compromisso com a profissão e uma forma de retribuição dos ensinamentos e experiência que me foram transmitidos pelos ilustres colegas que me ajudaram a ser o que sou como pessoa.
MN | Para os próximos dois anos, qual é a principal missão e objetivos desta nova direção?
PF | A missão é sempre a mesma em tudo o que façamos na nossa vida: ser útil aos outros, neste caso, à Dermatologia portuguesa, tendo por base a SPDV nas áreas em que pode intervir. Os objetivos da nova direção são: indexação da revista da SPDV em plataformas indexadas como a pubMed; realização de reuniões científicas e temáticas sobre temas importantes para a especialidade; criar um sistema de registo nacional de doenças imunomediadas com expressão cutânea; estudar, desenvolver e implementar plataformas de inteligência artificial de apoio à prática clínica.
MN | No âmbito da agenda institucional, que iniciativas estão já planeadas ou em ação para cumprir estes objetivos?
PF | Está programada a realização de duas reuniões científicas nacionais: a Reunião da Primavera agendada para 2 e 3 de junho no Porto e um Congresso Nacional a decorrer em novembro no distrito de Lisboa.
MN | Sobre a criação do Registo Nacional de doenças Imunomediadas com Expressão Cutânea, o que se pretende conquistar?
PF | Com o Registo Nacional de Doenças Imunomediadas com Expressão Cutânea, pretendemos: conhecer a realidade portuguesa relativa a estas doenças como a psoríase, eczema atópico, urticária crónica espontânea, hidrosadenite, alopecia areata e outras que vão surgindo, como por exemplo o prurigo nodular; perceber a importância dos tratamentos inovadores em condições de vida real; publicar trabalhos científicos a partir dos dados recolhidos; participação em redes internacionais; envolver os dermatologistas em estudos multicêntricos ou nacionais; alertar e informar a tutela sobre a realidade nacional em doenças com grande impacto na qualidade de vida das pessoas.
MN | A internacionalização da Dermatologia portuguesa é um dos principais aspetos a conquistar. Que ações estão previstas para atingir este objetivo?
PF | A internacionalização atinge-se com a projeção da especialidade além-fronteiras quer através da publicação de artigos em revistas indexadas, organização e participação dos membros da SPDV em reuniões internacionais ibéricas (reuniões conjuntas SPDV/AEDV), EADV e CILAD; apoio aos PALOP através de formações, missões e estágios desses internos em serviços nacionais, nomeadamente no âmbito do internato de Dermatologia para o qual já existem protocolos a nível institucional. Além disso, através da criação de parcerias com sociedades científicas internacionais de dermatologia e congéneres nacionais e internacionais (ex: Reumatologia, Gastrenterologia). Esta é uma especialidade que tem uma visibilidade crescente a nível internacional resultante da grande qualidade técnica e científica dos seus membros e serviços.
MN | Quais considera serem os desafios para os próximos dois anos?
PF | Os principais desafios para os próximos dois anos são a investigação clínica, regulamentação da estética como componente do internato de Dermatologia e da especialidade em geral, introdução crescente de novos métodos de imagem que possam aumentar a acuidade diagnóstica de forma minimamente invasiva para o doente, introdução de plataformas de inteligência artificial que sejam uma mais-valia na prestação dos cuidados de saúde. A inteligência artificial é uma realidade que veio para ficar em todas as áreas do conhecimento a da vida das pessoas, pelo que temos de aprender a usá-la e a conviver com ela, usando-a em benefício dos profissionais e dos utentes.
MN | Por fim, o que considera que ainda falta fazer na Dermatologia e Venereologia portuguesa?
PF | A Dermatologia portuguesa tem espaço para progredir nas áreas da formação médica contínua e investigação clínica além da introdução da inteligência artificial, como já referi. Outra área importante tem que ver com a saúde pública e a prevenção primária. É um desafio para todas as áreas da Medicina: prevenir a doença (sempre que possível) em vez de tratar com a sobrecarga que isso implica para o Serviço Nacional de Saúde.