PORTRAIT-DYS: intolerância às estatinas é uma realidade e é preciso “intervir nestas pessoas”

Cristina Gavina

Cardiologia

PORTRAIT-DYS: intolerância às estatinas é uma realidade e é preciso “intervir nestas pessoas”

Coube a Cristina Gavina, investigadora principal do PORTRAIT-DYS, apresentar os resultados deste estudo e “O papel do ácido bempedoico em doentes intolerantes às estatinas e/ou de risco cardiovascular alto e muito alto”, durante o simpósio patrocinado pela Daiichi Sankyo no XXXII Congresso Português de Aterosclerose. Em entrevista à News Farma, a diretora do Serviço de Cardiologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos fala sobre este trabalho e as importantes conclusões tiradas, com enfoque na alternativa terapêutica cujo impacto vai além do controlo lipídico. Assista às declarações em vídeo.

Tal como descrito por Cristina Gavina, o PORTRAIT-DYS é um estudo que foi realizado com dados dos registos eletrónicos de doentes da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (maioritariamente seguidos nos cuidados de saúde primários), com o objetivo de perceber “aquilo que era a abordagem da dislipidemia e o tratamento das pessoas de alto risco e de muito alto risco”.

Segundo a especialista, tendo em contra “outras análises” feitas previamente, observou-se que um grande número de pessoas já com doença estabelecida não fazia terapêutica hipolipemiante, algo que fez os investigadores questionarem-se sobre o “número potencial de intolerantes”.

Perante este cenário e com base no CLEAR Outcomes –estudo especificamente desenhado para se “poder perceber se o ácido bempedoico é eficaz ou não, versus placebo, em pessoas intolerantes” – diz Cristina Gavina que foram utilizadas “as mesmas definições e os mesmos critérios de inclusão e exclusão” para, com recurso à inteligência artificial, identificar doentes que não tolerassem duas ou mais estatinas ou que não tolerassem somente uma e, por isso, não quisessem voltar a esta opção terapêutica.

Para Cristina Gavina, este estudo é importante porque numa população com mais de 11 mil pessoas, “efetivamente, 10,5% eram intolerantes”, de acordo com os critérios do PORTRAIT-DYS. “Estes dados não estão muito longe daquilo que foi uma recente metanálise publicada, que revelou que nos ensaios clínicos nós tínhamos cerca de 9% de intolerância às estatinas”, afirma, acrescentando: “Em certa medida, reforça a ideia de que existem realmente pessoas intolerantes pelas mais variadas razões”.

Em linha com as anteriores considerações, a investigadora principal do estudo PORTRAIT-DYS enaltece a existência de alternativas como, “por exemplo, baixas doses de estatina em associação com outros fármacos, nomeadamente com ezetimiba e com ácido bempedoico”.

Em particular, sobre as mais-valias do ácido bempedoico, Cristina Gavina destaca a versatilidade do fármaco que “pode ser utilizado em monoterapia” ou em associação com ezetimiba, permitindo reduções de colesterol LDL “de cerca de 40%”. Atualmente, existe uma associação fixa de ácido bempedoico com ezetimiba em comprimido, o que, na perspetiva da médica, “é uma grande vantagem, indiscutivelmente, para questões de adesão terapêutica”.

Além deste aspeto, Cristina Gavina salienta que “quando vamos ver se este benefício de redução do LDL se traduz efetivamente em diminuição de eventos cardiovasculares”, o estudo CLEAR Outcomes demonstrou que é possível, usando ácido bempedoico em pessoas intolerantes, conseguir uma redução significativa do risco cardiovascular”.


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