Medicina Aeroespacial: “O futuro das missões espaciais”

Dr. Pedro Caetano

Medicina Geral e Familiar

Medicina Aeroespacial: “O futuro das missões espaciais”

A Medicina Aeroespacial está a dar os primeiros passos, em Portugal, mas, no mundo, a corrida ao espaço desenvolveu significativamente esta especialidade. O Dr. Pedro Caetano, especialista em Medicina Geral e Familiar, juntou a paixão por ciência e por espaço, que surgiu em criança, e tornou-se num dos poucos profissionais de saúde portugueses a praticar Medicina Aeroespacial. Atualmente, o especialista foi selecionado para o cargo de aerospace medical expert, da European Union Aviation Safety Agency (EASA). “Esta é uma das oportunidades que surgiu há pouco tempo e que permite trabalhar juntamente com outros experts a nível europeu nos futuros voos, pelo menos suborbitais e da aviação europeia.” Assista à entrevista.

 

A Medicina Aeroespecial apresenta uma significativa falha na vertente do conhecimento, por isso a promoção da literacia desta especialidade é a principal aposta, tanto na área da ciência, da investigação como na vertente operacional: “Ajudar os astronautas a estar saudáveis no espaço e a combater as comorbilidades posteriores.”

Por outro lado, a Medicina Aeronáutica já existe “há bastante tempo”, mas continua a ser uma área “desconhecida” para os seus pares, reflete. Esta especialidade, focada sobretudo em pilotos, controladores de tráfego aéreo, tripulação de cabine, realiza, primordialmente, investigação e certificação médica aeronáutica.

No entanto, estas especialidades divergem de todas as outras. “Na Medicina tradicional, são pessoas normais que têm algum problema de doença/comorbilidade. Na Medicina Aeroespacial, recebemos pessoas muito saudáveis e em condições físicas e psicológicas muito boas.” Neste sentido, o objetivo desta consulta é “colmatar e minimizar os riscos” para o futuro astronauta estar preparado para um ambiente extremo.

E, após o regresso do espaço, os astronautas atravessam um processo de reabilitação, momento acompanhado preferencialmente por profissionais de Medicina Aeroespacial, uma vez que se perde massa óssea e muscular, tendo de “reaprender a andar e a equilibrar”.

Decorria o ano de 2021, quando surge a possibilidade de o Dr. Pedro Caetano se candidatar ao concurso da Agência Especial Europeia, primeiramente, para realizar uma pré-avaliação dos candidatos e depois para astronauta. Entretanto, já saiu da corrida para o espaço, mas teve oportunidade de “perceber como a Medicina Aeroespacial pode ajudar as missões e os candidatos no futuro”. O especialista confessa que o melhor foi “passar pelo percurso e não o objetivo final de ser astronauta”.

Além disso, esta experiência permitiu-o consolidar e aprofundar conhecimento sobre “microgravidade, aceleração, radiação” e outros fatores que podem influenciar o futuro astronauta. “Esta foi a primeira vez que utilizámos, na prática clínica, a Medicina Aeroespacial, o que foi muito importante. Em Portugal, praticamente não tinha sido feito.”

Para esta corrida ao espaço, inicialmente, foram selecionados alguns portugueses, no entanto, e pela própria experiência do Dr. Pedro, “o investimento dos outros países em relação ao investimento português é muito diferente”, tanto a nível financeiro como de tempo de dedicação ao projeto. “Antes de ir para os testes, que foram em Hamburgo, estive a trabalhar no dia anterior, portanto, não consegui ter a mesma preparação que os meus colegas.”

Desde 2017, a Sociedade Científica Médica Aeroespacial atua em prol “da promoção da Medicina Aeroespacial e Aeronáutica interpares e público em geral”, através de cursos e formações. Além disso, pretende também interligar-se com outras sociedades internacionais e marcar presença em congressos no estrangeiro. em suma, “representar Portugal nessa área, promover e fomentar a ajuda interpares”, reflete.

Apesar de Portugal ter dado “um passo mais tardio” na Medicina Aeroespacial, tem pessoas “muito qualificadas”, algumas das quais teve o privilégio de conhecer no concurso, capazes de se unirem numa equipa multidisciplinar e acompanhar missões. “Portugal tem de apostar mais, não só porque seria importante a nível científico, mas também como representatividade.”

O Dr. Pedro Caetano acrescenta: “Um astronauta não é só um cientista, é também uma bandeira do próprio país e muito do trabalho do astronauta quando não está em missão é de relações públicas.”

Por fim, o especialista destaca que o próximo passo depende do investimento, aconselhando para colaborar em conjunto nos projetos e não pensar cada um por si. O objetivo primordial é: “Juntarmo-nos todos e promovermos, quer a nível nacional, quer a nível internacional, o que de melhor se faz e o que se pode fazer e muito mais em Portugal.”


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