Imunoterapia no tratamento definitivo da doença localmente avançada

Dr.ª Leonor Pinto

Oncologia

Imunoterapia no tratamento definitivo da doença localmente avançada

A Dr.ª Leonor Pinto escreveu um artigo de opinião onde explicita o papel da imunoterapia no tratamento da doença localmente avançada. Leia na íntegra o parecer da clínica do Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Em Portugal, todos os anos são diagnosticados cerca de três mil novos casos de cancro de cabeça e pescoço, representando o 7.º cancro mais comum na Europa. Cerca de 60 % dos doentes com cancro de cabeça e pescoço são diagnosticados numa fase avançada, pelo facto de a maioria dos sintomas serem frequentemente negligenciados pelo doente.

Neste sentido, o desafio passa por esclarecer a população para que saiba reconhecer os primeiros sinais e sintomas, como por exemplo a odinofagia, disfagia, disfonia, língua dorida e/ou manchas vermelhas ou brancas em toda a cavidade oral, congestão nasal ou sangramento oral ou adenopatias laterocervicais. Na verdade, são muitas as dimensões afetadas por este tipo de cancro, não apenas em termos físicos, mas também do foro psicológico e emocional.

Do ponto de vista físico, o impacto é importante precisamente por afetar funções como a fala, a mastigação, a deglutição ou a respiração. A alteração da imagem corporal, nomeadamente perda de peso decorrente da desnutrição, a dismorfia da face e do pescoço, assim como alteração dos sentidos, com especial incidência no paladar, olfato, audição e visão traduzem-se na maioria das vezes num ónus demasiado pesado para estes doentes.

Já em relação aos danos psicológicos/sociais, o cancro da cabeça e pescoço pode levar a comportamentos de isolamento social e dificuldade em abandonar os seus antigos hábitos toxicófilos. A complexidade e variabilidade das opções terapêuticas exigem uma abordagem por equipas multidisciplinares dedicadas e especializadas em centros com elevado número de casos, implicando na sua maioria um tratamento multimodal (radioterapia, cirurgia, quimioterapia, agentes biológicos e imunoterapia). Em qualquer plano de tratamento, o objetivo não é apenas remover o tumor, mas também preservar as funções das estruturas envolvidas na fala, na deglutição e na expressão.

Enquanto muitos doentes com doença localmente avançada são curados com alguma combinação de cirurgia, radiação e quimioterapia, outros desenvolvem doença recorrente/metastática (R/M) e são considerados incuráveis. A quimioterapia citotóxica tem eficácia limitada e toxicidade substancial no tratamento do HNSCC R/M, com uma sobrevivência global média inferior a um ano. Com o aparecimento de novas estratégias de tratamento, como as terapêuticas dirigidas e, mais recentemente, a imunoterapia, tornou-se possível obter ganhos de sobrevivência, mas também de qualidade de vida. A imunoterapia com inibidores de PD-1 revolucionou recentemente o tratamento deste tipo de carcinomas, principalmente os que se relacionam com o vírus do papiloma humano (HPV) e sem os efeitos laterais potencialmente devastadores dos tratamentos convencionais.

Uma das principais vantagens da imunoterapia sobre outras formas de terapia sistémica é que as respostas podem ser bastante duradouras, com benefícios clínicos às vezes medidos em anos. Contudo, apenas uma minoria respondem à imunoterapia mantendo-se uma lacuna clara para a maioria. Desta forma, no contexto da doença recorrente ou metastática o futuro passa por abordagens combinadas de imunoterapia com quimioterapia e/ou radioterapia, bem como biomarcadores aprimorados para ajudar na seleção dos doentes.


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