Importância da Nutrição e do exercício físico no controlo da obesidade e dos níveis de tiroide

Prof.ª Doutora Isabel do Carmo

Especial Tiroide

Importância da Nutrição e do exercício físico no controlo da obesidade e dos níveis de tiroide

No âmbito do Projeto Especial Tiroide, a Médico News conversou com a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo, especialista em Endocrinologia, Diabetes e Nutrição e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sobre o papel da Nutrição no tratamento e controlo do hipotiroidismo e obesidade. Ao longo das suas declarações, a ex-diretora do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria (CHULN) salientou que a obesidade é um problema multifatorial, nem sempre associado ao hipotiroidismo, mas que, ainda assim, é importante fazer-se uma avaliação regular da tiroide, especialmente em idades mais avançadas, além de um seguimento próximo e abrangente, através de uma dieta adequada e da prática de exercício físico. Assista ao depoimento em vídeo.

Segundo a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo, é “corrente e recorrente” as pessoas associarem “a sua obesidade a hipotiroidismo” e, por isso, é importante realizarem-se “análises ao funcionamento da tiroide, a maior parte das vezes para dizer que a causa não é tiroide”.

No entanto, poderá haver uma associação entre ambos, já que a pessoa, quando tem hipotiroidismo, tem cansaço. “E sendo uma pessoa cansada, mexe-se menos e faz menos exercício. Ou nenhum, se puder”, afirma a especialista, realçando que, dessa forma, o hipotiroidismo “é um fator para aumentar de peso porque, fazendo menos exercício, gasta menos calorias”. Mais ainda, o hipotiroidismo provoca uma diminuição do metabolismo e assim, “o organismo gasta menos energia”. Além disso, o hipotiroidismo pode causar depressão e esta contribui também “para a obesidade porque uma pessoa mais deprimida mexe-se menos, é menos ativa e, às vezes, sobretudo se a pessoa tem excesso de peso, tem mais apetite”.

Diagnóstico do hipotiroidismo na pessoa com obesidade

Questionada sobre o subdiagnóstico de hipotiroidismo na pessoa com obesidade, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo defendeu que nestes casos deve ser feita a avaliação da tiroide, pelo menos, uma vez por ano nas pessoas a partir de uma determinada idade, uma vez que “há pequenos sintomas do hipotiroidismo que passam despercebidos” ou que “podem ser englobados num diagnóstico de envelhecimento”. Para reforçar a sua afirmação, a médica deu o exemplo de um doente seu com um “hipotiroidismo gravíssimo”, cujo único sinal de patologia (e que levou inicialmente o médico de família a pedir exames para a tiroide) foi a manifestação de cansaço.

Em linha com as anteriores considerações, a professora da FMUL lembrou ainda quais outros sinais e sintomas que, por vezes, podem ser desvalorizados.

Nutrição e exercício físico no controlo da obesidade e do hipotiroidismo

“Sem uma intervenção na nutrição, não conseguimos que ninguém perca massa gorda”, declarou a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo, sublinhando, no entanto, que “o exercício é fundamental, mesmo que seja ligeiro”. Mas o tipo de exercício físico depende da idade da pessoa e da disposição da mesma para a prática, refere a especialista, partilhando o que costuma aconselhar aos seus doentes.

Além deste aspeto, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo falou ainda sobre o que é necessário para a perda de peso em termos calóricos, mencionando as “dietas da moda” que “geralmente não duram mais que um ano” e os perigos da suplementação. Fundamental é, efetivamente, a “redução calórica” e a prática de exercício que levam, no seu conjunto, a uma resposta do organismo.

Porém, “aquilo que está estudado é que, com a perda de peso, o organismo reage à mesma, consumindo menos energia”, alerta, continuando: “Ao fim de um ano de perda de peso, há uma certa recuperação e, ao fim de dois anos, se não houver cuidado, 80% das pessoas voltam a ganhar peso”. Assim, tal como esclareceu a especialista, esta reação do organismo implica que a pessoa deve ser mantida sob vigilância antes de começar a ganhar peso, mesmo estando já em “dieta de manutenção” e possa ter pontualmente alguns comportamentos alimentares menos corretos.

“Se a pessoa tinha obesidade, se perdeu peso, e se tem também um hipotiroidismo, é necessário um seguimento, para lembrar o exercício e que a redução calórica tem que se manter até certo ponto, e avaliar também até que ponto é que a tiroide tem de ser ajustada por ser um órgão muito sensível, mandando no nosso metabolismo”, acrescentou.

Antes de terminar, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo partilhou alguns conselhos/recomendações “a médicos que não são endocrinologistas, nomeadamente, de Medicina Geral e Familiar” para uma melhor abordagem aos doentes com “peso excessivo” e, simultaneamente, outros tipos de queixas que podem ser indicadoras de uma função anormal da tiroide.

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