Impacto da avaliação oncogeriátrica na prática clínica
Segunda-feira, 27 Fevereiro 23 15:26
Prof.ª Doutora Joana Marinho
Oncologia
Impacto da avaliação oncogeriátrica na prática clínica
Segunda-feira, 27 Fevereiro 23 15:26
A Prof.ª Doutora Joana Marinho expôs a sua opinião sobre a avaliação oncogeriátrica na prática clínica. Leia o artigo da especialista do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho.
O doente idoso é uma realidade na consulta de Oncologia, reflexo do envelhecimento da população. Com o aumento da esperança média de vida, estes números têm tendência a aumentar nas próximas décadas. A Oncologia Geriátrica caracteriza-se por uma abordagem multidimensional e multidisciplinar do idoso com cancro nas diferentes etapas da doença.
Os idosos com cancro são um população heterogénea. A abordagem do idoso compreende a avaliação de uma multiplicidade de variáveis que irão influenciar tanto a expressão da doença oncológica como a estratégia terapêutica personalizada a implementar.
No doente idoso a decisão terapêutica não deve ser baseada exclusivamente na idade cronológica, mas sim no estado fisiológico, situação funcional e cognitiva e no risco/benefício esperado com os tratamentos. A prestação de cuidados mais personalizados a esta população enfrenta vários obstáculos nos sistemas de saúde, relacionados com custos elevados, falta de recursos logísticos e humanos, entre outros.
Tradicionalmente os doentes idosos são excluídos dos ensaios clínicos por serem uma população frágil, ou quando incluídos representam claramente uma minoria. Esta baixa representatividade contribui para que a evidência clínica acerca da eficácia e tolerância dos tratamentos antineoplásicos seja pouco robusta, levando muitas vezes a toxicidades inesperadas e benefícios marginais.
A avaliação geriátrica global é instrumento de diagnóstico multidimensional e multidisciplinar realizado para recolher informações médicas, psicossociais e funcionais do doente idoso, com vista à identificação de vulnerabilidades. A informação recolhida é utilizada pelos profissionais de saúde para desenvolver um plano integrado de tratamento e acompanhamento.
Esta abordagem multidisciplinar e abrangente requer o envolvimento de vários profissionais de saúde incluindo oncologistas, geriatras, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, psicólogos, farmacêuticos, entre outros. A identificação de fragilidades na avaliação geriátrica, permite a implementação de intervenções personalizadas, resultando na melhoria dos cuidados prestados.
A avaliação geriátrica global no doente idoso cancro está recomendada pelas principais guidelines internacionais. Em 2020, vários ensaios clínicos randomizados de fase 3 mostraram pela primeira vez que a avaliação geriátrica e intervenções guiadas por esta nos domínios afetados, reduziam a toxicidade dos tratamentos antineoplásicos, com melhoria na qualidade de vida dos doentes, representando assim uma mudança de paradigma.