Como estará a Medicina daqui a 10 anos: a reflexão da Conferência de Abertura
Sexta-feira, 14 Outubro 22 14:04

Prof. Doutor Manuel Sobrinho Simões e Prof. Doutor Júlio Machado Vaz
Medicina Interna
Como estará a Medicina daqui a 10 anos: a reflexão da Conferência de Abertura
Sexta-feira, 14 Outubro 22 14:04
No arranque da Conferência de Abertura, o Prof. Doutor Manuel Sobrinho Simões e o Prof. Doutor Júlio Machado Vaz foram convidados a debater um tema “complexo e interessante”: “Como estará a Medicina daqui a 10 anos?” Em entrevista para a Médico News, discute-se o novo modelo dominante, diferente do atual, a formação e o registo de saúde eletrónico como os pilares da mudança na Medicina do futuro. Assista aos vídeos.
O Prof. Doutor Manuel Sobrinho Simões destaca três fatores de mudança para o futuro da Medicina, que poderá ser difícil de definir. Sejam 10, 15 ou 20 anos, o patologista acredita que o futuro depende dos profissionais de saúde e, principalmente, da “qualidade das instituições e a sua organização” e da sua capacidade para “fazer formação”, definindo que esta missão não é dedicada exclusivamente aos médicos. Para isso, “devem ter tempo protegido para não estar sempre de assistência e fazerem formação”.
Por outro lado, o especialista em Anatomia Patológica desafia a audiência com um tema “um pouco provocador”. Nos próximos 10 anos, existem várias doenças que não se vão resolver, nomeadamente as doenças crónicas, as artroses, a obesidade, a diabetes, as doenças mentais e neurodegenerativas — todas elas associadas à longevidade e ao envelhecimento. No entanto, acrescenta: “Tenho uma boa notícia para partilhar. Enquanto especialista em cancro, num prazo de 10 a 25 anos, a maioria das doenças cancerosas vão ser controladas.” No entanto, é importante frisar que “doenças controladas” não são “doenças curadas” e o especialista diferenciou-as com afinco. “Isto é uma novidade extraordinária”, conclui.
Por fim, deseja que, nos próximos 10 anos, o registo de saúde eletrónico seja uma ferramenta em uso pelos profissionais de saúde e instituições. “É inadmissível que, em Portugal, não tenhamos este registo e precisemos de articular entre as instituições e o Ministério da Saúde para ter um dossier único de saúde das pessoas.” Este registo permitiria que os utentes não tivessem de repetir exames que, consequentemente, libertaria o sistema nacional de saúde e os seus recursos. Em suma, “há um desperdício de tempo e de dinheiro monstruoso” e, por isso, este é seu desejo para daqui a 10 anos.
Convidados para abrir o 28.º Congresso Nacional de Medicina Interna, por fim, foram desafiados a partilhar algumas palavras de arranque. O Prof. Doutor Sobrinho Simões, sem rodeios e muito direto, afirma: “Sou um patologista com muito orgulho nos colegas de Medicina Interna.”
Já o Prof. Doutor Júlio Vaz Machado acredita que vai decorrer “seguramente uma mudança paulatina de um modelo muito hospitalocêntrico para um modelo que se vai espraiar para a comunidade”, considerando-o mais eficaz na prestação de cuidados e, cada vez mais, num caminho para “uma colaboração com os cidadãos”.
Colaboração é a palavra de ordem, já que sem a educação para a saúde nas populações dificilmente se vai adotar estilos de vida saudáveis, com o objetivo de atrasar o aparecimento de sintomas para diferentes doenças. Além disso, esta cooperação deve existir em prol “da sustentabilidade do serviço e do sistema nacional de saúde, porque, com este modo de funcionamento, rebentamos financeiramente”.
Neste sentido, “a Saúde não pode ser responsabilidade de um único ministério ou profissão”. Transdisciplinar é a solução para que esta parceria se realize e resulte, para, no fundo, “modificar as condições de vida das pessoas e aumentar a literacia”.
Por fim, o especialista acredita que “as mudanças não vão acontecer de um momento para o outro”, mas este é o futuro: “O cidadão como o próprio produtor de saúde.” Atualmente, “a Medicina Interna está viva, mas não está de boa saúde; está amuada e com razão, mas que tem todas as condições para seguir em frente.” Condições essas que não dependem apenas dos profissionais de saúde, também devem ser-lhes proporcionadas, clarifica o especialista. Por isso, o futuro ainda está nas nossas mãos; apenas precisamos de arregaçar as mangas.
Também convidado a partilhar umas palavras de arranque, em entrevista, afirma: “Obrigado por me tratarem muito bem; obrigado pelo trabalho que têm feito; e uma palavra de esperança” para ultrapassar os obstáculos e as dificuldades com motivação.