“Células CAR-T mudaram o paradigma de tratamento do LDGCB”
Terça-feira, 07 Fevereiro 23 13:15

Prof. Doutor Guillaume Cartron
Hematologia
“Células CAR-T mudaram o paradigma de tratamento do LDGCB”
Terça-feira, 07 Fevereiro 23 13:15
De passagem por Portugal, o Prof. Doutor Guillaume Cartron, diretor do Departamento de Hematologia no Hospital Universitário de Montpellier, em França, partilhou a experiência de vida real com as células CAR-T em doentes com linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), no centro onde exerce atividade. Assista ao depoimento em vídeo.
No Hospital Universitário de Montpellier, o programa de tratamento com células CAR-T teve início em 2018. “O primeiro doente foi infundido em fevereiro de 2019 e, até à data [novembro de 2022], já foram infundidos 150 doentes com células CAR-T, incluindo 101 casos de LDGCB”, começou por informar o Prof. Doutor Guillaume Cartron, que dirige o Departamento de Hematologia desta instituição hospitalar, em França.
O especialista, que participou presencialmente em novembro na Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia, afirmou que a experiência de vida real com as células CAR-T permitiu afinar a seleção dos casos que mais beneficiam desta estratégia de tratamento: “Procuramos selecionar os doentes para esta estratégia de tratamento o mais cedo possível, com o intuito de evitar a progressão e uma maior atividade da doença.”
O Prof. Doutor Guillaume Cartron mencionou que, apesar dos desafios, ao longo destes quase quatro anos de experiência, fruto de uma maior curva de aprendizagem, houve “um declínio do número mediano de dias de internamento [de doentes infundidos], que passou de 23 (início) para 12 dias, em 2022”. Tendo em conta a atual organização do Serviço, o hematologista acredita ser possível “infundir 50 doentes por ano com células CAR-T”. “Sabemos, contudo, que no futuro necessitaremos de infundir 100 doentes por ano, mas, para isso, necessitamos de novas instalações.” Para cumprir este propósito, “está ainda previsto alocarem oito novas camas para estes doentes”, acrescentou o hematologista.
Quanto à gestão das toxicidades relacionadas com as células CAR-T, o especialista recorda que, “no início” da terapia celular, recorriam “frequentemente a medicação preventiva”, especialmente tocilizumab. Atualmente, há um esforço para recorrer “a menos medicação, especialmente tocilizumab”, e uma tentativa “de controlar mais eficazmente os aspetos metabólicos”. “Observámos uma redução da incidência de síndrome de libertação de citocinas e neurotoxicidade (ICANS, sigla do inglês que significa Immune Effector Cell-Associated Neurotoxicity Syndrome) de grau mais elevado, além de um menor risco de transferência para a Unidade de Cuidados Intensivos.”
Na sequência destas afirmações, o Prof. Doutor Guillaume Cartron indicou que “todos os doentes recebem a visita de um intensivista, previamente ao tratamento com células CAR-T, com o objetivo de elaborar uma estratégia de deteção de doentes em risco de CIRS ou ICANS, nomeadamente aqueles com maior volume metabólico, doença inflamatória e/ou citopenias, falência de órgão ou ECOG >2. Com a identificação de doentes em maior risco, podemos acautelar uma vaga na UCI em caso de necessidade”, confirmou.
“As células CAR-T mudaram o paradigma de tratamento do LDGCB, sendo uma estratégia que está aprovada [oficialmente] como terceira linha. Em geral, tentamos antecipar o tratamento com CAR-T em doentes que não obtiveram resposta após dois ciclos de tratamento de segunda linha (com outra abordagem que não terapia celular)”, explicou o especialista.
No entanto, e dado que já está disponível o acesso precoce de células CAR-T em segunda linha, “avaliamos todos os doentes que iniciam tratamento de primeira linha com o intuito de detetar precocemente — após quatro ciclos — aqueles casos em que não há sensibilidade à quimioterapia. E, nestes casos, avaliamos a possibilidade de tratamento com células CAR-T”, clarificou o hematologista.