Cancro: a par da investigação, “é fundamental apostar no aumento da literacia dos cidadãos, na prevenção e no rastreio”
Quinta-feira, 02 Março 23 10:12
Oncologia
Cancro: a par da investigação, “é fundamental apostar no aumento da literacia dos cidadãos, na prevenção e no rastreio”
Quinta-feira, 02 Março 23 10:12
De acordo com um estudo internacional, cerca de um milhão de casos de cancro ficaram por diagnosticar por toda a Europa durante a pandemia, devido à COVID-19 e a fatores geopolíticos como o Brexit e a guerra na Ucrânia. Deste modo, o estudo dá conta da necessidade de se alargar a componente investigativa oncológica, expondo, assim, fragilidades nos sistemas de saúde e na interrupção de ensaios clínicos. Consequências que seriam de prever, conta o diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, Prof. Doutor António Araújo, tecendo um comentário e enumerando os maiores desafios que estes fatores “disruptivos” agregam a nível nacional e internacional. Veja a entrevista.
Durante a pandemia surgiram muitas adaptações na área da Oncologia, especialmente no modo de observar e tratar os doentes. Além do mais, o período pandémico teve impacto nos rastreios pela interrupção dos mesmos, como por exemplo o do cancro da mama, parado por mais de seis meses, e nos protocolos de investigação. Neste último ponto, o Prof. Doutor António Araújo afirma que o Brexit e a guerra que decorre na Ucrânia vieram criar diversas dificuldades nalguns ensaios clínicos, levando ao atraso destes.
Analisando o estudo publicado na revista The Lancet Oncology intitulado “European Groundshot — addressing Europe’s cancer research challenges: a Lancet Oncology Commission”, dando conta da premência investigativa oncológica para encontrar melhorias na prevenção, diagnóstico e tratamento, a fim de se evitar uma epidemia futura na Europa por consequência de adversidades já referidas, o especialista partilha algumas soluções para inverter o cenário. Começa por aludir para a importância de se apostar na prevenção que “passa muito pelo aumento da literacia da população e da educação em idades mais jovens nos hábitos de vida saudável” e que fará com que haja “um grande retorno” a médio longo prazo; outra solução direciona-se com a realização do rastreio como o do cancro do pulmão, próstata e estômago em complemento aos já implementados em diversos países europeus. O especialista reforça que os rastreios “acabam por salvar vidas”.
Recentemente o ministério da Saúde confirmou o alargamento dos rastreios oncológicos aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago, uma medida que deixa o Prof. Doutor António Araújo com esperança de que no futuro mais áreas sejam alargadas, mas para isso relembra que “tem que haver primeiro exames de rastreio que sejam custo-efetivos que permitam com um investimento pequeno detetar mais precocemente a doença e podermos ter armas para alterar o seu decurso”.
Atendendo que cerca de um milhão de casos de cancro tenham ficado por diagnosticar, o Prof. Doutor António Araújo acredita que muita dessa população estará num processo de diagnóstico e a ser tratada devido aos sintomas apresentados pelas pessoas. Com a paragem dos rastreios, explica que foram perdidas oportunidades de tratar precocemente a doença, pelo que termina afirmando que é preciso “robustecer” este mecanismo de prevenção.